Sorte contrária
Noite escura,
Clara lua,
Duas sombras.
Duas figuras andarilham na noite pérfida.
Perambulam com andar transfigurado, sonolentos
Esguiam-se mutuamente e, de momento a momento,
Voltam-se para a rua, solitárias companhias.
O andar grotesco indica a petulância, a miséria,
Que esses animais sofrem no cotidiano.
Aguardam ansiosos, ano a ano,
Que a sorte lhes traga boas novas.
O tempo passa, ou se passa pelo tempo
Com ligeira rapidez e esquecimento.
Esses pobres infelizes não eram animais
Eram pessoas esperando a cerração dos olhos de seus tormentos.
Lágrimas na Lua,
Céu sem escuridão,
O cosmos chora o revés dos filhos;
Esperança...
Nas poças enlameadas se encontra o melhor dos espelhos,
Não aquele feito pelo homem, mas o verdadeiro da natureza des”humana”:
O espelho da alma.
Ao olharem, as criaturas encontram duas sombras horrendas
Com resquícios mínimos de humanidade, filhos das trevas
E filhos dos pais que os fizeram e não assumiram paternidade
Esses monstros, meus amigos, são irmãos nossos,
Crias da gestação abortiva
Da Sociedade...