Previsão

Eu vou ficar sozinha

Vou ficar abandonada

Já sei o que me espera

O que me aguarda a madrugada

Não quero pena

Não quero compreensão

Não posso ser entendida

Não sou a vítima e sim o vilão

Pelos olhos, por entre as pernas

Derramarei sangue

Por ajuda, por piedade

Minha alma exige que eu clame

Mas não mais valho que um cigarro usado

Não mereço que ninguém me ame

Pois sou veneno, sou pecado

Espero que a voz do inferno me chame

Eu me perdi

E não tem mais volta

Eu fugi

De mim mesma, sem escolta

Minha boca tem vários gostos

Vários hálitos a pertenceram

Inebriados aqueles rostos

Que lascivos meus seios acolheram

Os toques que em minha pele

Subordinaram-se ao meu calor

Pareciam querer penetrar

Nos meus poros que expeliam desejo e vigor

Os mesmos toques que subalternos

A minha astúcia e ao meu comando

Substituídos com frieza foram

Não houve verdade, nem beleza, nem encanto

Meus olhos são ilusórios

mesmo que as palavras não

São apenas sentimentos provisórios

É o despertar inútil de uma paixão

Estou suja, fétida, impura

Exalo perfumes para embriagar

Para confundir, revelar nobreza

Mas não passo de mendigo a se arrastar

Sórdida, incrédula e indefesa

Mas já tive um dia coração

Agora nem mais sei o que há

Poesia, desenho, canção

Um navio perdido a naufragar

Uma pedra, vazio, escuridão

Uma gota largada ao mar...

Jessik Andrade
Enviado por Jessik Andrade em 23/02/2011
Reeditado em 23/02/2011
Código do texto: T2810786
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