Zé Ninguém
Quem conhece alguém como Ninguém?
Como Zé?
Quando não tão somente fica, vai com quem?
Ninguém o espera, não o convida.
Alguém te chama porque não te espera.
Não vai para onde quer,
Vai com quem não quer como se quer alguém que não te ama.
Íris que não regula bem não vê ninguém.
Quando fala pouca coisa são as mãos que a profere.
E quando coisa é muito pouca nem as mãos o obedecem.
Já sem motivo chora alguma lágrima que não quer conhecê-lo.
Não quer o Zé,
Não quer ninguém.
Ela não sai sem motivo, sem ninguém.
O Zé agora tem por que chorar.
Afinal, não tem ninguém.
E então cadê sua lágrima?
Caiu por alguém que passou e ninguém viu,
Zé não viu, não chamou.
Não sentiu.
Zé está vivo, mas não existe.
Se sentisse e chamasse, não o veria.
E quem por ele falasse que amava,
Impressionava.
Quem o sentia e deixasse passar como pupilas diante da luz,
O acordava profundamente
Para o que de fato existe, para ninguém
Ele não é real.
Zé se torna pupilo quando debruça sua cabeça num apoio qualquer.
Só o Zé adormece, mas quando sonha
Ninguém o esquece, o deixa, o sente.
Quer morrer para como ninguém não ficar.
Quer de vez entregar-se a devaneios
E por lá com alguém de verdade sonhar.