PREENCHIMENTO VÁCUO

O que há em mim, não tem nome

Nem palavras que o defina claramente

A imensidão abstraída no vácuo da inexistência

Uma incompletude alada que voa por todo um ser

Um querer descontente e insaciável

Uma ternura fria e doce

Coisas sem significados

Como em um porão de objetos desvalidos

Largados ao tempo e à poeira

Onde traças e aranhas fazem ninho

Ou tudo isso, só que novinho

Na sala de estar de um vizinho

Como lembranças vadias no espaço

Desleixado, sem rumo, coração perdido

Controvérsias entre outras faces de dor

Ou tudo isso contido no amor

Como em um museu natural nas rochas

Ocas desabitadas e esquecidas

Há tempos sem saber o que é vida

Só gases fétidos a flutuar

Só escuridão e silêncio sem tempo e sem fim

Ou tudo isso na luz do porvir

Bento, sacro e fino dentro de mim

Como um estreito caminho jamais trafegado

Numas brenhas ferrenhas nas serras medonhas

Ou tudo isso ao brilho do sol

Em forma e sem medo ou parcimônias

A visão mais cega e o destino mais incerto do mundo

O vácuo, devo saber, está em mim

Sou eu um universo de sensações antigas

Janelas abertas para o vazio

Portas escancaradas para o infinito

Breve ausência de sentido e emoções

Breves calafrios de pensamento e de repente

Quedas em si – repentinas e impiedosas

Um turbilhão de sentimentos

O reverso do lado certo e inverso

O presente na ausência de outrora

O preenchimento vácuo

A completude vazia

O indefinível

Abimael Borges
Enviado por Abimael Borges em 31/01/2011
Código do texto: T2764214
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