PREENCHIMENTO VÁCUO
O que há em mim, não tem nome
Nem palavras que o defina claramente
A imensidão abstraída no vácuo da inexistência
Uma incompletude alada que voa por todo um ser
Um querer descontente e insaciável
Uma ternura fria e doce
Coisas sem significados
Como em um porão de objetos desvalidos
Largados ao tempo e à poeira
Onde traças e aranhas fazem ninho
Ou tudo isso, só que novinho
Na sala de estar de um vizinho
Como lembranças vadias no espaço
Desleixado, sem rumo, coração perdido
Controvérsias entre outras faces de dor
Ou tudo isso contido no amor
Como em um museu natural nas rochas
Ocas desabitadas e esquecidas
Há tempos sem saber o que é vida
Só gases fétidos a flutuar
Só escuridão e silêncio sem tempo e sem fim
Ou tudo isso na luz do porvir
Bento, sacro e fino dentro de mim
Como um estreito caminho jamais trafegado
Numas brenhas ferrenhas nas serras medonhas
Ou tudo isso ao brilho do sol
Em forma e sem medo ou parcimônias
A visão mais cega e o destino mais incerto do mundo
O vácuo, devo saber, está em mim
Sou eu um universo de sensações antigas
Janelas abertas para o vazio
Portas escancaradas para o infinito
Breve ausência de sentido e emoções
Breves calafrios de pensamento e de repente
Quedas em si – repentinas e impiedosas
Um turbilhão de sentimentos
O reverso do lado certo e inverso
O presente na ausência de outrora
O preenchimento vácuo
A completude vazia
O indefinível