Oh não!

I

Era uma noite quente e melindrosa,

O céu profundo a vastidão cobria.

A lua pálida, distante e nua,

Qual ser alado pelo céu corria.

E eu caminhava pelo campo e grande

Negro tapete de sublime encanto:

- Era a voz dela! Oh Deus, que voz suave

Tal como a brisa a suspirar seu canto.

II

Bem nesse instante eu estaquei cioso.

Havia medo! Sim, havia gozo...

Cruéis segredos de fatal paixão...

O que é o homem nessa vida inglória?

Página rota e negra da história!

Pobre criança a implorar um pão...

III

Como sonhar um sonho tão ousado,

Se nem ao menos sabes que és tão minha...

Não desconfias que procuro insano,

Mesmo à distância a tua companhia?!

Bem sei! Também tu sofres a agonia,

Noites em claro, prantos e incerteza:

- Tu não tens paz pelo amor suspenso...

- Não tenho paz por ver tua beleza...

Todo conjunto em plena lauta mesa,

Risos faustosos, palmas, reencontro...

Abraços, beijos, juras, confidências,

Mas, para ver-te eu não estava pronto.

Cambaleante eu fui correr e tonto,

Caí vencido e pela madrugada

Chorei baixinho pelo meu destino

Segredos lúbricos que a vida guarda.

Sorvi tremendo de tua taça amarga,

Ao ver tua mão morena um compromisso

Que para mim seria a glória, o cume

E para alguém é nada além de um riso...

É nesta hora que de ti preciso,

Sem prometer um sonho de castelos

Pois, sou mendigo - não carrego ouro.

- Fala-me anjo teus desejos belos!

Vem ter comigo! Oh Deus, nos teus cabelos...

Quero beijá-los, me perder à fundo.

Quero sentar-me à roda de teu leito,

Narrar-te histórias deste e doutro mundo.

Mas o receio é um vilão imundo,

Como a bacante fria e desalmada:

- Deus dá aos pobres a coberta fria,

Para esquentá-lo co´a pessoa amada.

Toda essa história que é pra ti narrada

À madrugada é feita na distância:

- Como uma estrela que a morrer cadente,

Num céu sem brilhos... que meu peito lança.

IV

Como Varela que chorara o vício,

Ou como a planta que perdera o visco,

Sou como o nauta a naufragar nos mares...

Como um tufão lambendo as frias casas,

Como a andorinha que amputando as asas,

Soluça e geme à imensidão dos ares.