FRIBURGO

FRIBURGO

Ontem estive lá.

Senti o drama do povo do morro.

Os habitantes de encostas perdem sempre nas águas traiçoeiras.

Nunca faceiras, nem amigueiras, por demais primeiras.

Derradeiras águas de morte e dor.

Conheço sua história.

Um menino sofria sede no norte.

Os barrancos derretiam com o peso das águas do sul.

Triste sorte do forte e do nu.

Triste povo sem governo e muito imposto.

É um encosto nas encostas de Friburgo.

É uma herança deixada em Teresópolis.

É uma cara lavada com água malvada que desce sem piedade sobre gente de carne e de papel.

Eles não viram o céu.

Nem tiraram o véu.

Morreram patrioticamente.

Comeram de seu próprio mel.

Encontraram no final da ladeira um vaso cheio de lama e fel.

As vítimas do Brasil são silenciosas.

Sempre esperançosas.

Teimosas em acreditar.

No barranco próximo ao chão estendido ficou um braço de menino.

No bueiro da cidade emigrante jazia um homem ajudante de pedreiro.

As casas foram com o rio.

O rio levou o sonho.

O Brasil assistiu tudo.

O povo tomou café e foi dormir para depois trabalhar.

Ah, que azar!

Tem mais gente para enterrar!

Enterra as vítimas do acaso da desgraça da tirania!

Uma terra assustada.

Seus homens trabalham por nada.

Acreditam que tudo será diferente.

Até a próxima chuvarada e ventania.

Até enterrar o próximo parente...

Roosevelt Vieira leite.

50 anos vendo enchentes...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 20/01/2011
Código do texto: T2740375
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