CARTA PARA MIM V
Deixa-me partir sem pormenor,
por que insistes em atar-me a ti?
Preciso retomar minha caminhada
quero sozinha comigo seguir.
Não me olhes de soslaio
nem desafine o meu tom,
deixe-me colher flores de aço,
poder gastar o meu batom.
Não repreendas a minha fala
nem a carta que escrevo aleatória,
não me busque na perfeição dos teus traços
pois sou o oposto da tua história.
Sou tua memória aprisionada,
as fotos com espaços recortados,
os fatos em milhões de pedaços,
as migalhas das tuas sobras.
Sou tua réstia mal desenhada,
tua pele aveludada as avessas,
teu intervalo semirroto,
sou apenas o pouco do pouco.
Não pretendo ser semissoma,
quero-me sempre-viva.
Vou partir sem tua sombra.