Eu, você, ninguém...

Não, não sei dizer o que queres ouvir;

Em palavras doces de angelical encanto.

Mas posso muito lhe contar em pranto,

De sombras humanas, e de nosso porvir.

Da carne que a túnica dourada esconde,

Mas que perdeu a vida, não se sabe quando, nem onde.

Se perguntares o que sobrou de nós,

Sabes que não falarei de amor.

Posso falar de infortúnios e dor,

Enquanto enlouqueces por estarmos sós.

Por sermos dois peitos calados,

Chagas abertas, dilacerados.

Se insistires em saber o que somos agora,

Posso buscar nossas histórias,

Remexer nossas memórias,

Dos anos passados até esta hora.

És a que não crê, sou o que não ama.

Éramos o campo em flor, hoje somos a lama.

Somos qualquer um, indiferentemente

Qualquer humano, velho, criança.

Vivendo do gotejar da esperança;

De uma verdade que nos mente.

De um passado que nos cega,

De uma morte que não chega.

Sou o que jamais construí;

És a melodia que jamais compuseste;

És a semente que não será cipreste;

Sou a certeza de que, tentando viver, em vida morri.

Sou e és, enfim, o que nunca fomos,

Sou eu, és tu, não somos.

André Canevalle Rezende
Enviado por André Canevalle Rezende em 13/01/2011
Código do texto: T2725770
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