SENTIDO
Na espera por ele;
Ela perdeu-se num pesadelo repentino.
Os anjos não cantaram como de costume;
O fim da missa não teve amém.
A crença forte tornou-se vaga;
Os homens acordaram de um sonho:
Júpiter pediu ajuda a Alá.
As idéias são muitas.
Os crentes se multiplicam nas ruas.
Do telhado das casas se ouve o mesmo barulho: Cristo passa.
Meninos e meninas juntam-se para dançar com o Mestre.
Onde estavas ontem?
Para onde fostes no verão?
Por que não fostes à África?
Por que foges da miséria?
O sol amanhã nascerá e com ele levantam-se as questões.
O sentido está no peito do viajante, escondido em suas fibras.
São os olhos que enganam; a miopia é secular.
Não espere boas novas, pois a calçada é testemunha da rua.
Não se tem em quem fiar;
Nossa pele está nua;
Nossa razão ainda crua, não dá para digerir.
Ele estava no campo.
Chovia muito.
O raio abateu-lhe as esperanças;
Um corpo na grana, um crente na eternidade.
Uma mulher a chorar.
Que vaidade!
Desperta consciência de teu delírio.
Acorda amiga minha até que beijes o bom senso.
Parece que o sentido está nas fezes.
Excrementos de meu dia a dia.
Minha eterna lembrança pastosa da infância...