MEU ALTAR
De pequenino,
aos poucos eu fui,
degrau a degrau,
assentando os meus santos.
Era tanto o respeito
que até de joelhos
me punha a prostrar.
No primeiro, o vereador;
com as devidas licenças
chamava-o de ”meu nobre edil”.
no segundo, o prefeito,
com a máxima permissão,
de “Excelentíssimo prefeito”.
Nunca chegava a ele
sem a interferência
do “meu nobre edil”.
No terceiro, o delegado,
(abaixo do padre e do pastor)
com um certa tremedeira,
chamava-o de “Doutor Delegado”.
Ah! – “meu Meritíssimo Juiz!”
Te pus mais acima;
chegar a ti? - eras inacessível!
Tremedeira e medo.
E assim fui tronando
“Meus excelentíssimos”
deputados, governador,
Senadores e o Presidente.
Estes, respeitosamente,
os coloquei ao redor do Sacrário.
Por ordem da Santa Madre,
Deus, lá no topo.
Se não prostrado,
de pé eu me punha.
Todos eram do meu mais
digno respeito.
Culpa dos meus pais
e do professor.
Como foram inocentes!
Hoje, sem permissão alguma
destrono-os sem distinção.
Do meu altar
fiz lenha para um churrasco
regado a uma boa cerveja.
Na falta dela...
o vinho do padre.