MEU ALTAR

De pequenino,

aos poucos eu fui,

degrau a degrau,

assentando os meus santos.

Era tanto o respeito

que até de joelhos

me punha a prostrar.

No primeiro, o vereador;

com as devidas licenças

chamava-o de ”meu nobre edil”.

no segundo, o prefeito,

com a máxima permissão,

de “Excelentíssimo prefeito”.

Nunca chegava a ele

sem a interferência

do “meu nobre edil”.

No terceiro, o delegado,

(abaixo do padre e do pastor)

com um certa tremedeira,

chamava-o de “Doutor Delegado”.

Ah! – “meu Meritíssimo Juiz!”

Te pus mais acima;

chegar a ti? - eras inacessível!

Tremedeira e medo.

E assim fui tronando

“Meus excelentíssimos”

deputados, governador,

Senadores e o Presidente.

Estes, respeitosamente,

os coloquei ao redor do Sacrário.

Por ordem da Santa Madre,

Deus, lá no topo.

Se não prostrado,

de pé eu me punha.

Todos eram do meu mais

digno respeito.

Culpa dos meus pais

e do professor.

Como foram inocentes!

Hoje, sem permissão alguma

destrono-os sem distinção.

Do meu altar

fiz lenha para um churrasco

regado a uma boa cerveja.

Na falta dela...

o vinho do padre.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 12/01/2011
Reeditado em 13/01/2011
Código do texto: T2725132