(Des)Ilusão
Por que insistes em segurar minha mão?
Por que teimas em me dedicar afagos?
Por que ainda investes nesta pseudo-relação?
Poupe-me de teus ridículos monólogos!
Enquanto umedeces lábios sedentos de beijo,
acumulo escarros para lançar em teu semblante.
Enquanto declamas falsos cortejos,
admiro tua decadência, distante.
Busque em tua memória desculpas enfadonhas
para atos cometidos durante teu estado ébrio.
Enquanto planejo as minúcias de teu óbito (em sonho),
e deleito-me em atos puros de adultério.
No iluminado dia de tua morte,
farei questão de lamentar esse fato.
Direi que fui uma mulher de sorte.
Afinal, nossa vida sempre foi um teatro.
A cada cicatriz que desenhas em meu corpo,
invisto mais tempo nas particularidades de teu epitáfio.
Aproveite cada segundo desta sua vida de conforto
que o caminho para o averno é curto e fácil.
O homem com o qual construí laços,
dividi anseios e planejei sonhos,
desapareceu em meio a tantos traços
e, em seu lugar, permaneceu algum ente medonho.
O que ainda me mantém unida a ti?
A triste esperança de que tudo possa mudar
ou a longa espera para destruir tudo que senti
por ti, em algum momento, algum lugar.
Em um dia qualquer de verão,
tu finalmente sucumbistes.
O teu significado em minha vida caiu no vão
que tu próprio construístes.
Toda a tua putrefata existência
hoje se resume aos limites de teu túmulo
construído pelas entranhas de minha consciência,
por todo um processo de desacúmulos.
Após anos do mais fútil convívio,
descobri o que ainda sustentava teu organismo:
todo esse ódio que a ti destinei (insensato martírio!),
e as nossas constantes situações de eufemismo.
Agora, às tuas entranhas, só destino minha indiferença
e a mais profunda repulsa de meu ser.
Por esta tua gorda demência,
nunca mais hei de sofrer.
Autor: Elvis Gomes Marques Filho
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