BENEDITO MEU
Benedito!
Esse menino não sabe o que faz.
Benedito foi para a lapa.
Naquele lugar os meninos viram homens.
Os homens viram fantasmas.
E os fantasmas se cansam de andar pelo mundo.
Benedito!
Onde você está meu filho?
Benedito foi vender crack para o povo do asfalto.
A classe média degenera a pobreza.
Tenha certeza.
Toda riqueza será castigada.
Toda torpeza será punida.
É uma ferida prurida.
Comida estragada.
Gente muito boa, branca até demais.
Benedito!
Ele não me responde.
Quem sabe perdeu o bonde?
Foi?
Foi!
Benedito volte logo!
Cedo de manhã Benedito foi para o necrotério. Depois, no cemitério, foi rezar sua oração:
“Crack nosso de cada dia me dê meu pão”.
O Brasil esqueceu Benedito.
Ou melhor,
Benedito?
Quem era?...
A nobreza é hipócrita.
A nobreza tem suas razões.
Benedito também.