A noite parecia infinita
A noite parecia infinita.
O sono estava junto ao sol, do outro lado do mundo.
Mal eu conseguia acreditar no que ouvira de véspera.
Tudo havia desmoronado: casa, casamento, felicidade.
A noite parecia infinita.
A minha ilha recebeu de uma só vez todos os ataques nucleares.
Ficaram os retalhos queimados.
E os carneiros
Que eu contava
Um
Por
Um
A noite parecia infinita.
A rua silenciosa sob a janela alta
Era cúmplice do meu pranto.
O frio de lá subia as escadas para acompanhar a minha dor.
E o relógio da cozinha:
- Tic-tac
Não me deixava fugir à realidade
A noite parecia infinita.
Porém, não era.
O champanhe da felicidade revelava a última gota.
A valsa nos doía os pés.
O véu tão bem guardado desmanchou-se.
Agora é vestir mais uma vez o paletó –
Não sem antes sorver um bom café –
Tirar os óculos da mesinha de cabeceira
E sair para contemplar o dia,
Afinal a noite ainda pode ser infinita