A noite parecia infinita

A noite parecia infinita.

O sono estava junto ao sol, do outro lado do mundo.

Mal eu conseguia acreditar no que ouvira de véspera.

Tudo havia desmoronado: casa, casamento, felicidade.

A noite parecia infinita.

A minha ilha recebeu de uma só vez todos os ataques nucleares.

Ficaram os retalhos queimados.

E os carneiros

Que eu contava

Um

Por

Um

A noite parecia infinita.

A rua silenciosa sob a janela alta

Era cúmplice do meu pranto.

O frio de lá subia as escadas para acompanhar a minha dor.

E o relógio da cozinha:

- Tic-tac

Não me deixava fugir à realidade

A noite parecia infinita.

Porém, não era.

O champanhe da felicidade revelava a última gota.

A valsa nos doía os pés.

O véu tão bem guardado desmanchou-se.

Agora é vestir mais uma vez o paletó –

Não sem antes sorver um bom café –

Tirar os óculos da mesinha de cabeceira

E sair para contemplar o dia,

Afinal a noite ainda pode ser infinita

Lê Cardoso
Enviado por Lê Cardoso em 13/12/2010
Código do texto: T2668455
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