Ao lar que aos poucos morre

Um pouco de medo , ao chegar contigo … nossas mãos distantes

Atado ao vazio que em tudo se expande , ainda sem sono … recluso

Mimado , mas me acostumando à nossa distância

Indiferente a tudo ao redor

Temo não querer de novo , ficar só … e só me ir

Choveu sobre meu rosto , e eu nada vi

Senti um colapso , alguma coisa em tom de adeus

Mas tive vontade de voltar , encarar qualquer desavença , com tato e carinho

Nem sei se te falei das minhas dores

E o quanto é difícil ficar quietinho , esperando que elas passem

E se formos diferentes demais ?

A última coisa que eu queria ouvir , era que nunca deveria ter acontecido

Na verdade , nossos lares não me confortam

Às vezes penso que tudo o que queria de alguém …

Fica impossibilitado , diante do nosso apego indistinto

Queria te encontrar e te abraçar

Mas provavelmente iria te apertar contra mim , e dizer que te amo

Ao pé do ouvido , enquanto me martirizaria por , em um momento qualquer ...

Pensar que não fomos feitos um para o outro

És o meu reflexo de carinho desejado , mas não sei me suportar

E dentro de tudo isso , ficaria me chocando contra essa parede que é a falta

Esse vazio desesperador

Que mesmo preenchido , sinto-o como uma superfície sem apoio

Um vestido , sem a anágua que lhe dê base de decência

Mais uma vez vou te chamar pra conversar

Te mostrar os meus dotes e todas minhas falhas

Se houver de acontecer , que aconteça

Mas se eu desistir , não me culpe

Pra eternidade , ao menos , levo paz , e sempre … um pouco de ti banhada nesse mel que ainda hoje sinto .

Daniel Sena Pires – Ao lar que aos poucos morre (12/11/2010)