Jogo de Azar
Eu perdia no campo minado
no carteado
em aposta, em partida
e de canto de boca, mesmo vencida
eu sorria
que o ditado dizia
que quanto mais azar no jogo tinha
mais sorte no amor viria.
E eu via o céu clareando
e me perguntava se chegara a hora
que um mar morno e brando,
contrário ao passado revolto,
Deus me presentearia
Se eu teria uma terra, ah, terra!
quem jamais te esqueceria?
terra firme, de sustento
que florescesse carinho portento
de sustança
e bom intento.
Mas tua terra é areia
e movediça
tua palavra é quebradiça
tua teia
inescapável.
Homem venenoso, de carinho indesculpável
tu me tens miserável
sob o jugo invisível
da tua palavra indizível
esse ardil abusivo
do que sabe bem dizer
o contrário do que vai fazer.
porque se tu me quisesses,
podia o mundo acabar,
em dois, partiria,
e canivete choveria
teria arrastão na Rocinha
teria enterro na lapinha
e eu em apaixonada bebedeira
lúdica, lírica, lépida
plantaria até bananeira
Mas eu, digna de pena
tão refém da tua cena
esperando o milagre da tua palavra
como á deriva, uma zabra
como no Islã, um sabra
como no sertão, um cabra
como quem roga terra, em ermo oceano.
como quem roga a chuva no inóspito dano.
como quem roga acerto, em meio ao engano.
E eu, pequena
nesse meu gostar afoito
te acoito
em meu coração
tens espaço demais
tanto espaço, que nem mansão
e eu em teu peito?
que espaço foi feito?
que potencial eu tenho
de colonizar teu pensamento
de luzir teu cenho
me diz que intenção, que força empenho
para semear-te tal sentimento?
Então tenho sorte no amor? MENTIRA!
Que sorte no amor é essa?
quem inventou tal promessa?
mas que sentimento lixo!
carnal, humano, traiçoeiro!
se calhar, jogo no bicho
pois se o dito é verdadeiro
se no amor eu desisto
no jogo, talvez ganhe dinheiro
mas algo eu ainda não explico
e com meus botões alterco:
se azar no amor, sorte no jogo
diz o ditado
por que abro o campo minado
e ainda perco?