AMOR DE BERÇO
Na alma que recebi de berço,
dedicar amor a quem se ama
não foi ainda um terço
do amor que mereço.
Com esta mesma medida
que ainda não me veio,
talvez numa despedida
com a cabeça maneio
pela minha acerba ferida.
E ainda não morri,
a vida pulsa no supino
prometo e prometi
que vou morrer menino.
Das rugas não desfasso
das cãs que disfarço
na pele sinto o teu cheiro
e o teu jeito faceiro
que nele ainda me acho.
Não sei se me apavora
o ter que curtir o teu luto
que me veio sem hora
ou talvez resoluto
não resolva ir embora.
Ou quando neste Natal
que ao teu lado for vazio,
a ausência de mim afinal
te cause um senitmento tardio,
de uma saudade especial.
Ao teu ato temerário
chamo de imaturidade,
não discernes a verdade,
digo, pelo contrário,
me imputas falsidade!
Já me encontro em fadiga,
cansaço de espírito,
de coração triste e aflito!
A solidão, minha amiga,
que adeja num vão maldito,
que me acompanha o choro
furtivo e em sutil decoro,
ainda não acredito!
Mas com silêncio me pagas
por dedicar tanto amor,
que me afogou nessas vagas
ao sucumbi de pavor
por perder de mim o teu brilho,
o birlho da minha flor.
E se é tal coisa o meu salário,
por amar e te dar tanto carinho
fez de mim ser solitário
dos teus beijos que eu mereço,
melhor é viver, então, sozinho,
por virar meu coração do avesso.
(YEHORAM)