Tristeza antiga
Há festa no mundo.
Retornemos ao começo de tudo.
Vagueiam pelo caminho bestas infernais.
As mulheres escondem-se em cavernas milenares.
Suas crianças são alimentos de leões e pardais.
Pobre cruel e antiga criatura!
Aprenderam a falar.
E na pedra deixaram sua assinatura.
A paz nunca veio.
Nem o conhecimento de si.
Nem o amor pelo outro.
Nem tiveram todos os seus sonhos concretizados.
Antes foram concretados.
Ergueram castelos na areia.
Falaram, falaram palavras.
As águas as levaram para o leito dos rios cheios de poções fétidas.
O vento apagou-lhes as pegadas.
Ninguém lembrou-se de suas faces suadas.
O seu soldo foi o sol quente, quente como o verão do Ceará.
O seu salário foi o sangue, sangue quente de gente.
E a angustia e a dor os acompanhou até aqui.
É a hora derradeira.
Pequenos saltos de folguedos.
Algodão doce, pipoca e esperanças muitas.
Acabou a brincadeira.
Deixamos para trás nossos ossos.
As marcas de nossa ânsia.
Compraram-me um caixão à prestação.
Deitaram-me nele: Pobre homem!
Choraram sobre ele algumas horas.
Depois o levaram embora.
Jogaram terra sobre a terra.
O pó sobre o pó.
A natureza de mim não teve dó.
O meu ventre estourou para os vermes.
Comida farta para essas criaturas.
Então terminou.
Há festa no mundo...