Homem Só
Sob a chuva lenta e paciente
o homem olhou para o céu.
De tão concentrado que estava
não conseguiu ouvir nada
além do próprio silêncio.
Um nó em sua garganta
represava todo a sua vontade de gritar.
Molhado por fora, machucado por dentro
o homem sentia-se jogado num canto qualquer
de sua voluntária solidão.
Mais um dia se foi,
mais um dia como qualquer outro.
Deitado no chão, entre garrafas e latas vazias,
olhando fixo o teto que teimava em girar,
o homem se deu conta de quem realmente é.
O dia seguinte começou com gosto amargo na boca.
Um sol tímido surgiu enganador,
e aquele homem aflito e resignado
sentia-se nublado, rancoroso com a própria sorte
ainda que entendesse o merecimento de sua falta de vida.
Mesma repleta de dor,
a cabeça vôou longe
para o lugar que num dia
ele pode sentir a felicidade de perto,
mas que hoje virou uma distância planetária.