ACALANTO
“ACALANTO”
Dói, dói, dói,
Dor imensa
O amor vive, mas morre dentro de mim.
Amei-te tanto filho meu,
Tanto,
Que foi mais que um vício
Que um indício para que enfim
Encontrasse sentindo a meu destino
Tão sozinho
Sítio de luz e felicidade
Hoje a vida tira-te de mim
Diz-me a vida
Que não és meu querubim
Que não sou teu pai
Mais...
Que um retrato de uma dor presente
Por ora, sem fim
Abate-se
A vida,
Entregou-te aos braços
De tua mãe
Que demais,
Proteja-te
Deixar-me ir
Pois,
Para nunca mais partir
Para se vir
Ao meu lado
Sorrir por um dia
Amá-lo
Deus, meu pai,
Por que fizestes isto a mim?
Por que retirastes a dádiva mais pura
Ao deixar-me provar da uva
Única, para agora
Tirar-me tudo
Como a um beijo que parte
Filho deixar-te partir,
É preciso
Pois, tu assim, serás melhor
Do que me ter como a teu pai
Deixar-te partir
É recorrer
A outro amor imenso
Em ser Gazaneu,
Apenas eu,
Quem mais?
Talvez o outro destino
A ti iluminai
No pai que para sempre
Será Kumagai
Dor, dor, dor,
Partido meu coração
Enquanto alegria
Não me deixastes são
Passei a tua gestação
Entendendo-me como a teu pai
Agora que o tenho
No tempo se vai
E te levas de mim
Gabriel, porque te amo
E porque amo a tua mãe
É por isso que quero
Que sejam felizes
As cicatrizes
Farão os milagres
Por a si mesmos
Se renovarem
Agora que partes de mim
Dor imensurável
Como o pavor
Que passa a intervir,
Inviolável
Pavor em que, enfim,
Perde o respeito
Para o que parece
Não se afastar –se,
De mim
Viva filho,
A vida
Pois ela é linda
E será linda
Pois fará que sintas
Toda a postura de bem, caráter e respeito
Terei a ti sempre em meu peito
Pois aprendi a amar-te,
Mais do que,
A mim mesmo
Cedo, tão cedo,
A felicidade parte
No fundo cabe a mim
A amizade
Que talvez,
Nunca nutras por mim
Saiba, meu filho,
Que a renúncia,
Às vezes,
É um ato de coragem
Amarei a ti
Mesmo que não
Compartilhemos
A passagem
De tua infância
De tua idade,
Adulta
Filho,
Mesmo,
Sem me conheceres,
Nunca te esqueças
De viveres
Todo o amor
De dentro de mim
Acalanto cantei!
Enquanto estavas
Protegido
Pelo bálsamo
Envolvido
De dentro de tua mãe
Por quem reclamo
Amo-te!
Ouça-me o quanto
Neste acalanto
Que agora
Canto
E tanto
Mal
Mas só faz
Para mim
Vivas feliz
E sejas fiel
A tua liberdade
Adeus filho,
Adeus Gabriel
Entrego-te, agora,
À felicidade.