Soneto (ao meu primeiro e único ódio)
Apego-me agora ao sentimento que se aflorou em mim
De passado ficou a beleza e apresento-lhe meu ódio chinfrim
Amor não extirparei mais de minha boca, um tanto quanto traiçoeira
Não me falta vontade de difamá-la, pequenina tão faceira
Vossos olhos, vossa boca, vossas mãos, trazem a mim mau sentimento
Dei-lhe certeza, bravura, pureza e a recíproca foi só sofrimento
Nas feias rimas minhas eu desejo o óbito do meu coração
Perguntei-lhe algumas vezes e vossa resposta foi: _Decepção!
Nuvem, flor, fruta, madeira, sol e semente
Provém a mim ânsia de morte, eternamente.
Verso nulo sem coragem de respirar...
Fogo, defunto, pedra, concreto, chuva e trovão
Provém a mim ânsia de vida, maldição.
Verso nulo sem brandura de amar...
(Eduardo Andrade)