A Tristeza

Resta-me essa lágrima que oscila clarividente entre amar

Essa força que entorna em fraqueza a consciência dos homens

O grito que no abismo conversa com si mesmo e agoniza

Aos ares do firmamento a fragilidade de ser só;

Possui-me essa pobreza de ser diferente descrente

Mas ter esperança num dia que pode ser que se torne a ser,

Um sonho que foge do intrínseco momento de querer fugir

Se recolher no verbo sempre exato de morrer e também nascer.

Toma-me de medo esse desejo entreaberto como a cortina

De um quarto que impede a luz de ser útil

Essa riqueza de ser príncipe na vida

Mas plebeu de espírito...

Para que essa vontade de achar o que se procura

Para depois tornar a perder?

Para que agarrar nas asas de um pássaro e voar para longe

Se o tormento de ser si não é o lugar, mas o próprio pensamento?

De que adianta essa lama de homicídios, se um dia em alma

Teremos de conviver para sempre?

E o dia vem com todo charme de ser infinito

E observar a todos com seus tormentos de chuva.

E o sol que invade a todo lugar com a tola esperança

De iluminar a tristeza, sem saber que é incapaz

De fazer companhia quando existe-se na sombra,

A lágrima sombra de um olhar...

E lá vai a mesma gente todos os dias

Maquiando a própria fraqueza atrás da carne de um sorriso

Que apodrece quando a palavra resolve-se aparecer...

E então tudo existe; - A vela penitenciando seu próprio corpo

Para ir acalmando os pecados de quem a acendeu...

- O mendigo que pensa não existir por viver prostrado

Aos favores de um jornal trágico...

- O casamento que se faz puro até a noite de núpcias...

- E os asilos cobertos de feridas já idosas incicatrizáveis...

E tudo caminha involuntariamente no mesmo ciclo,

Mesmo tempo, mesmo nada...

Até que a morte resolve se mostrar atrás do véu

Que um dia foi amor e felicidade, e então a tudo separa

(Até que a morte vos separe)

Vem correndo, lentamente,

Ansiosa aguardando os ponteiros de sua beleza

Soluçar e tranqüilizar o grito que havia se perdido.

Até que bate e dorme o coração como um relógio,

E nos vemos em pé a colher as lágrimas

De nosso próprio velório...

Gabriel Alcaia
Enviado por Gabriel Alcaia em 21/10/2010
Código do texto: T2570685
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