A Tristeza
Resta-me essa lágrima que oscila clarividente entre amar
Essa força que entorna em fraqueza a consciência dos homens
O grito que no abismo conversa com si mesmo e agoniza
Aos ares do firmamento a fragilidade de ser só;
Possui-me essa pobreza de ser diferente descrente
Mas ter esperança num dia que pode ser que se torne a ser,
Um sonho que foge do intrínseco momento de querer fugir
Se recolher no verbo sempre exato de morrer e também nascer.
Toma-me de medo esse desejo entreaberto como a cortina
De um quarto que impede a luz de ser útil
Essa riqueza de ser príncipe na vida
Mas plebeu de espírito...
Para que essa vontade de achar o que se procura
Para depois tornar a perder?
Para que agarrar nas asas de um pássaro e voar para longe
Se o tormento de ser si não é o lugar, mas o próprio pensamento?
De que adianta essa lama de homicídios, se um dia em alma
Teremos de conviver para sempre?
E o dia vem com todo charme de ser infinito
E observar a todos com seus tormentos de chuva.
E o sol que invade a todo lugar com a tola esperança
De iluminar a tristeza, sem saber que é incapaz
De fazer companhia quando existe-se na sombra,
A lágrima sombra de um olhar...
E lá vai a mesma gente todos os dias
Maquiando a própria fraqueza atrás da carne de um sorriso
Que apodrece quando a palavra resolve-se aparecer...
E então tudo existe; - A vela penitenciando seu próprio corpo
Para ir acalmando os pecados de quem a acendeu...
- O mendigo que pensa não existir por viver prostrado
Aos favores de um jornal trágico...
- O casamento que se faz puro até a noite de núpcias...
- E os asilos cobertos de feridas já idosas incicatrizáveis...
E tudo caminha involuntariamente no mesmo ciclo,
Mesmo tempo, mesmo nada...
Até que a morte resolve se mostrar atrás do véu
Que um dia foi amor e felicidade, e então a tudo separa
(Até que a morte vos separe)
Vem correndo, lentamente,
Ansiosa aguardando os ponteiros de sua beleza
Soluçar e tranqüilizar o grito que havia se perdido.
Até que bate e dorme o coração como um relógio,
E nos vemos em pé a colher as lágrimas
De nosso próprio velório...