Por que o Trem

Eu sempre gostei demais de trem.

Quase que é mesmo afeição.

Naquela marcha lenta ele vai dando

entrada na estação.

Pela janela a gente vai procurando

o amigo, a mãe ou o irmão.

Não sei explicar porque de trem

gosto muito mais que de avião.

Só sei dizer que na estrada rodando

ele é bem veloz.

E, de repente, da janela olhando

a gente vê um jardim, assim pra nós.

Sobre pontes ele vai passar,

diminui a marcha ao subir

aquela serra inclinada demais

– parece não terminar.

E, de repente, tudo se escurece,

mas depois o sol torna a surgir.

Tive de levá-la à estação.

Dela eu tive de me despedir.

Também o trem nos faz às vezes ficar

chorando de emoção,

pois chega o dia que ele deve levar

alguém que a gente queria impedir.

Porém mesmo assim prefiro o trem.

Rio, 24/07/1967