A quem lhe faltam palavras

e há a sede de palavras

escassas

escarradas

escusas

deus, como são poucas as palavras

e são tantas as febres

e são tantos os conflitos

e tão imensas as tragédias

a poesia flutua

mas a vida pesa

no cabo das tormentas

nos sulcos da estrada

nos grilhões da azáfama

há pedaços de palavras

boiando em poças

lamacentas

há sombra e fumaça

há choro e velas

restos de palavras

e o grande silêncio

que a tudo abraça

como no sonho ruim

há que esperar

a bala

o sangue

a explosão

a sangria desatada

há que esperar

a palavra

que se cumpra

que não se meça

até mesmo a palavra muda