Tudo e Nada

Quando a dor me aperta o peito...

Quando eu olho para os cantos...

Solidão e desencantos

trazem a mim meu malfeito.

Quando a dor me aperta o peito

os meus olhos fitam tudo:

Os caminhos do pregresso,

os sorrisos transbordantes,

os teus beijos fumegantes,

teus afagos caridosos,

tua voz meiga em recesso,

o teu canto de alegria,

teu encanto, teu quebranto,

o teu pranto, fé, magia,

teu amor e segurança

que me davas todo dia

com pureza de criança...

E me lembro que a verdade

deu a nós um só caminho,

um abismo tão profundo

e acabou com nosso mundo,

nosso amor e o nosso ninho.

Eu me lembro que a verdade,

nossos olhos com cegueira,

permitiu que fossem livres.

O juízo foi perdido

nesta tosca claridade,

pois o Tudo era mentira.

O processo agora é lento,

esmiúço-me por dentro,

o meu pranto é rubicundo

na vileza deste Nada.

Antes fora um Tudo meu?

Dá-se o Nada, dá-se a ira

dá-se a raiva, dá-se mágoa,

mal, rancor, mas nunca lira;

meu pensar desgovernado

para todos ao meu lado

são ondas no copo d’ água.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 12/10/2010
Código do texto: T2552385
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