Tudo e Nada
Quando a dor me aperta o peito...
Quando eu olho para os cantos...
Solidão e desencantos
trazem a mim meu malfeito.
Quando a dor me aperta o peito
os meus olhos fitam tudo:
Os caminhos do pregresso,
os sorrisos transbordantes,
os teus beijos fumegantes,
teus afagos caridosos,
tua voz meiga em recesso,
o teu canto de alegria,
teu encanto, teu quebranto,
o teu pranto, fé, magia,
teu amor e segurança
que me davas todo dia
com pureza de criança...
E me lembro que a verdade
deu a nós um só caminho,
um abismo tão profundo
e acabou com nosso mundo,
nosso amor e o nosso ninho.
Eu me lembro que a verdade,
nossos olhos com cegueira,
permitiu que fossem livres.
O juízo foi perdido
nesta tosca claridade,
pois o Tudo era mentira.
O processo agora é lento,
esmiúço-me por dentro,
o meu pranto é rubicundo
na vileza deste Nada.
Antes fora um Tudo meu?
Dá-se o Nada, dá-se a ira
dá-se a raiva, dá-se mágoa,
mal, rancor, mas nunca lira;
meu pensar desgovernado
para todos ao meu lado
são ondas no copo d’ água.