A TI, EX-COMPANHEIRA
(A todos os homens que se sentem insubstituíveis, o centro do universo)
Eu te cerquei de teias,
Esquecendo-me que sangue
Corre em tuas veias.
Seduzi-te com um sorriso maroto,
Fiz-me garoto, vítima, criança
E roubei-te os melhores anos.
Mesmo me amando,
Fiz da tua lágrima o meu riso,
A tua fome, transformei em abastança,
No teu calor aqueci meu frio,
Sendo meu mar, fui apenas rio.
A menina tola
Fiz crescer à força
Arrancando-te da boca
Palavras e ações
Que só gente grande é capaz.
Por quê?
Porque o amor tudo dá e nada exige
E na minha frieza,
Fria e pálida certeza,
Meu EGO “ista” queria mais.
Minhas mágoas e tristezas
Mais importantes que as tuas.
Que me importavam as dores nuas?
No fundo eu te odiei.
Às vezes quis te amar
Mas no meu tolo comodismo parei.
Da cegueira de minha mente
Eu me alimentei.
Só vi teus erros,
Evidenciei teus defeitos
Para tornar-te menor
E fui deixando-te cada vez mais só.
Queria que esperneasses, sofresses,
Gemesse, pedindo clemência
Mas tu seguias, consciência...
Nada negando, tudo entregando.
Acostumei-me som teus “sins”
Regados a pranto
E talvez por isso agora
O teu “não” definitivo dói tanto.
Porém, um dia...
Quem sabe?
Eu me dispa da fantasia de durão
Reconheça que tive na mão
O mais forte e puro amor?
E, sem rancor:
Fui feliz, tive tudo a vida inteira
E posso escrever a minha história
Em tua história, ex-companheira.