Se eu não mais puder
Quando meus olhos não encontram os teus
Sinto-me a mais desprezível das criaturas
Sinto pesar sobre meus ombros o furor dos céus
Como se viver fosse um inferno de desventuras
Se meus olhos não mais podem encontrar os teus
Já não pode haver para mim condenação maior
E de nada me vale a divina proteção de deus
Pois já não há neste mundo algo mais aterrador
Se meus lábios não podem tocar os teus
Nada pode tirar o gosto amargo da boca
E não há gosto mais amargo que do adeus
E nessas horas de angustia o coração sufoca
Se nossos corações não podem estar unidos
E se nem minha alma pode se abrandar na tua
De nada valeu minhas preces e meus pedidos
E menos ainda vale a primavera, o sol ou a lua...
E se nossos passos têm que seguir rumos diferentes
Já não haverá caminhos para meus pés percorrer
Pois é como ter os pés amarrados por correntes
E já não conhece nenhuma luz os meus alvorecer
E se meus momentos forem distantes dos teus
Tornar-se-á meu espírito um andarilho pagão
Já não sopra mais os ventos brandos nos mares meus
Sem vós serei por estas ruas e esquinas um sopro vão