Vidraça
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A vida pode estourar num belo dia
ou nos grudar na parede do esquecimento.
O cimento aquecido, a liga;
o aquecimento descabido,
desmoronando uma ‘ex’ potente viga.
Esqueçam todos os holofotes.
A luz que nos torna astros
é a mesma a irradiar o lúgubre claustro.
Os fotógrafos, os repórteres...
Eles adoram a desgraça alheia.
E, antes que a peça chegue ao fim,
desmoronam-se castelos.
Das muralhas, dos alicerces,
por melhores que tenham sido as raízes,
nada resta e tudo vira amorfa areia.
Que importa se houve um passado!
O que demora é a construção...
Para que se destrua, basta uma torpe trama.
O que vende é a queda, a descida.
O ascender é lento demais e não se faz ver.
As lentes, a objetiva, preferem o fácil movimento.
Se for verdade, fez-se o teatro, a encenação.
Se for mentira, que importa, gerou-se emprego.
O fracasso do outro nos torna feliz...
Jogar pedra é bom demais, não sabia?
Da vida, em havendo apego,
queremos é a falsa moralidade,
o grito silencioso do inocente infeliz.
Ah, e os milhares de pseudo-amigos,
por vezes mascarados anos a fio,
eles se volatilizam no concreto...
A abstração da amizade, essa sim,
é mera relação de íntima conveniência.
Nijair Araújo Pinto
Crato-CE, 2 de setembro de 2010.
05h23min
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