Jardineiro Infiel
Aconteceu que o jardineiro,
Olhando para sua velha flor,
Escolheu dela cansar
Suas pétalas murchas,
O corpo meio arqueado,
A ausência do perfume,
Sua cor desbotada,
Nada fazia que satisfizesse mais seus sentidos.
Arrancou, então, a velha flor
Sem muita cerimônia.
Na flora buscou outra,
De pétalas voluptuosas
Perfume exuberante
Colorida de intensidade.
Plantou-a no meio do jardim.
Mas eis que o pobre jardineiro iludido
Em seu enlevo distraido
Esqueceu-se das raízes
Que a velha flor deixara
Enquanto a nova flor
Um caule vazio ostentava
Logo, logo iria murchar.
De repente viu-se perdido
Em meio ao solo vazio
Uma a uma buscou tantas flores
A todas plantou com vã esperança
Sobre o pobre cadáver da velha flor arrancada.