FILHOS DE MADRASTA
Quando me perguntam dos meus filhos eu os consagro ao marido,
Por serem de outra árvore, e sorrio porque estão crescidos.
E quanto mais o tempo passa e o rio da vida me leva, mais me surpreendo
Pois os filhos da mãe mais parecem filhos de madrasta, com o pai.
Crianças mimadas e exigentes, por serem filhos de família separada
Adolescentes orgulhosos e mais exigentes, por serem filhos de pai distante
Não compreenderam que distante não é o mesmo que ausente
Ou entenderam sim, porque a distancia nunca os impediu de requisitá-lo.
Homens e mulheres que seguem a procissão como fossem híbridos
Suas composições desiguais os tornaram mecanicamente racionais
Seus sonhos se perdem entre a cor de prata e os frisos das laterais
Seus olhos não vêem além do metro quadrado de suas habitações.
Guardam em seus sacrários murchas flores das comunhões
E quando o perfume do passado lhes toca as narinas
Saem como as formigas em busca de mais comida
Para saciar a sede de seus suores e a fome de seus cofres.
Precisam pisar o chão homogeneizar o sangue e a terra num ladrilho
Colorido piso para suas danças raciais, para suas festas natalinas
Quando trazem o poder destacado nas marcas, nas Pradas e nos Hugôs
E seus sorrisos embora para todos, estão mais para mero improviso.
Há quem diga que a amargura veste de negro meus versos
E eu digo em contra prova que estou de luto
Morrem os filhos que não são meus, suas cinzas eu solto
Soprando com cuidado, para que continuem... amontoados...amontoando!