Viver
"Da minha morte não sei o dia
Mas posso vir a saber
Pois já se começa na morte
Logo após se nascer"
Em suplícios de partida
Entre risos de chegada
A vida que nasce todo dia
É uma cena maquiada
Escondida em mil receios
Descoberta em mil fachadas
É um caso escrito ao léu
Por entre linhas expostas
Um desígnio vindo do céu
Do qual não sabemos resposta
É uma dádiva para alguns
Para outros é mera carga
Entre cenas e acenos
Ela se faz e é escrita
De letras e sorrisos plenos
Para muitos é prescrita
Porém para os desafortunados
Entes sem nenhuma sorte
Ela é feita de enganos, fados
Que pesam muito mais que a morte
E levados por dores e frustrações
Escondem-se do mundo desfeitos
Juntando cacos e pedaços de corações
Para estes já não existem defeitos
Mas a culpa de sua existência
Um tédio fatalmente envenenado
Pelos males da sua própria experiência
Que triste esse medo engasgado
Que se apresenta neste celeste palco
Por encantos e poesias recitados
Pois a tristeza de muitos poetas
Serve para muitos serem consolados
Pois para cada lágrima rescitada
Arrancadas do fundo de uma alma
Outra salva, eleva apaixonada
Devolve-lhe sorrateira a calma
E a morte da qual temos tanta certeza
Que veremos um dia chegar
Dá a vida essa tediosa beleza
E nos leva a esquecidamente esperar
Esperar sem saber por que
Por um momento guardado no tempo
Um incansável alento
Que chamamos de viver...