ENTRE A ÁGUA E O FEL
Entre os períodos da vida
Entre altos e baixos
Acostumei-me à falta de sabor e à falta de cor
Dos aromas nem falo, pois estes nunca existiram
Sigo resignado, equilibrando o coração que às vezes passeia tão próximo à insanidade
Concluí que é melhor assim, sem muitos ideais
Pois a finalidade de ideais que não se concretizam é a de nos frustrar
Antes uma vida insípida, inodora e incolor do que uma vida negra, mal cheirosa e amarga
Mas há coisas que mesmo ante minha vigilância constante maculam meu aparente equilíbrio
Há coisas que por si só possuem um sabor áspero de decepção
Como a lixa de ferro a limar a minha língua com grande intensidade
É uma fina, quase imperceptível melancolia que transpassa o meu consciente
Melancolia de saber que a vida passa e não traz as mesmas oportunidades que um dia trouxe
Após a juventude vem a velhice e o fim da saúde
O início de uma fase em que tudo se dificulta
Se a vida já tem esse viés hoje, como serão os dias de decadência?