Gangorra

Não sei a paz que me faz

tentar seguir adiante,

quando no mesmo instante

o que desejo é parar.

E outra vez começar

a não ficar, prosseguir,

pra logo depois desistir

de andar, de ir longe demais.

Quero e não quero a distância.

Nego e desejo o aconchego.

Preciso de algum sossego,

mas dessa bagunça também.

E quando a hora me vem

de decidir o que faço,

logo me encolho e me abraço

pra sufocar minha ânsia.

Quero encharcar o meu dia

de uma tristeza sem fim.

Mas logo acho dentro de mim

uma alegria invencível.

Penso no quanto é impossível

viver essa vida inconstante:

de um lado o clamor radiante,

de outro a maior nostalgia.

Mas não adianta fugir.

Me invadir já não posso.

Sei que não passo de um troço

que não entendo ou explico.

Por isso é que eu suplico:

não me permitam pensar,

não me permitam falar.

Só quero o meu elixir.

Rio, 01/05/2005