Desaguamento

Meu olho d’água cegou

E o último fio corre

Querendo alcançar o mar

Ah, mas quanta aridez se encontra

Ao longo desse caminho...

É tanta pedra

Tanta poeira

É tanto espinho

Que talvez fosse mais certo

Eu me açudar por aqui

E, conformado, esperar

Algum novilho com sede

Ou até mesmo, quem sabe

Que o sol, com suas línguas de fogo

Me lambesse todo

Cada molécula em mim

E que eu virasse vapor

E que chovesse lá longe

Ou que sumisse no vento

Como uma nuvem frustrada

Que nada em mim é perpétuo, nada!

Nem mesmo a minha alma

Esse rio que escorre e morre

Como se fosse uma lágrima.