O poeta e o palhaço.
Entre o poeta e o palhaço
decerto que existe o homem...
E se são três no mesmo espaço
porque então eu sou somente,
um retrato apagado e indecente
do que não fui e poderia ter sido;
se quando miro a imagem no espelho
há um nariz pintado de vermelho
que talvez seja um tomate;
ou um doce ovo de chocolate
pintando marrom esmaecido
na vestimenta de arlequim.
O rosto do homem, ora escondido
nunca teve a dureza do aço
enquanto o sorriso do palhaço
é só mágoa que não tem fim...
Quantos gracejos serão precisos
pra que teus risos e teus sorrisos
sejam pra mim e não de mim !
E, se a graça então sou eu,
para um poeta que morreu
só o palhaço era, afinal;
porque só restou esse rosto
que nem pode rir com gosto;
pois traz consigo a ironia
de que o amor que ele vivia
era um sonho irreal...
Não fica imagem duradoura
porque a púrpura logo desdoura
sob a lágrima e sob o pranto
que o palhaço não evita...
Mas, se o homem pode tanto,
só o poeta é que sabe quanto
a sua dor é infinita...