Diálogo com os Peixes

Diálogo com os peixes

Qual será o comportamento tido como adequado, mais indicado prá que se possa conviver em paz?

Aquele modo de vida que nos apraz? Ou uma vida submetida aos padrões dos que se dizem normais?

Como copiar do Outro algo que não queremos, posto que nos é suficiente o que temos, e se este Outro nem sabe o que faz?

Ao contrário: vive uma Moral defasada, se debate em normas ultrapassadas, e veste encarniçadente uma roupa que já não lhe serve mais?

Aquele que adquire noção do que é melhor para si mesmo, enfrenta lutas titânicas prá fazer valer sua maneira de agir e pensar

Divulgar essa visão de mundo, então, que nem tente! Os riscos não serão poucos, pois que imediatamente será chamado de louco

Não tendo em maos mais que idéias, será ridicularizado. Este é o preço a pagar por se pregar liberdade: o encontro de ouvidos moucos

Também será alvo de gente passiva, feliz com a mesmice que já conseguiu na vida, que reage de forma agressiva ao ter que o espelho encarar

Quem ousa enfrentar tais danos, saí com toda certeza arranhado; sente-se no canto do ringue acuado, e questiona seu jeito de ser

Percebe que em todos os tempos, quem ousou pensar diferente da manada a pastar na grama, foi perseguido e odiado

Não caberiam aqui os relatos, de tantos que foram os dramas. O Homem médio, normal, tem comportamento de rato, gosta de se refestelar na lama

Agride a quem tenta ajudá-lo, tanto que a mudança o assusta; o raciocinar coerente muito lhe custa – acha bem melhor continuar algemado

Soa triste, mas verdadeiro: Sócrates, Bruno e Ghandi, não foram os primeiros; também não serão os últimos a ser consumidos na inquisidora chama

Da ignorância, da baixeza e do egoísmo, que afundam qualquer chance do altruísmo vir a ser entendido como a melhor forma do ser humano viver.

Em uma ocasião, quando eu editava um pequeno jornal no interior de Sergipe, usei a expressão “caminhar sobre o fio da navalha” para exemplificar dificuldades de trânsito entre propostas de vida opostas. De lá para cá, muita água passou por baixo da ponte da minha vida, carregando, em seu contínuo fluir, coisas boas e outras nem tanto, mostrando-me que as águas seguem eternamente o seu curso...

... e o fio da navalha permanece afiado.

Vale do Paraíba, manhã do segundo Domingo de dezembro de 2009

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 05/07/2010
Reeditado em 30/11/2019
Código do texto: T2359814
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