REFÉNS DE MEIA OITO...90

REFÉNS DE MEIA OITO...90

Nasceste de meia oito até noventa?
Chega mais! Entra! Senta!
Sei que papo longo te apoquenta.
Não te critico, mas presta atenção!
És neto da Bossa Nova.
Lembras?
E também do Poetinha,
Tropicalismo, Beatles, Festivais,
Jovem-Guarda, Musicais.
És filho da ditadura que só foi dura
Com quem, tendo alma pura,
Acreditou em quem não devia,
Como se crê em fada-madrinha.
Dessa mistura de poesia e armadura,
Conceberam-te refém do “eureka”:
Lucro fácil das transnacionais
“Shopping Center”, grifizinhas:
Efemeridades de custo eterno,
Nos centros e arredores das cidades,
Onde estariam poetas e músicos
A cobrir-te de felicidades.
Dói-me ver-te de loja em loja:
Tens fome para consumir, sede de poder;
Queres o eletrônico da última geração,
o carrão, a lancha, o avião.
Percebo teu desejo de tudo ter
Rápido, sem esforço, de graça.
No teu olhar o pré-orgasmo e a dor...
Da impotência, da frustração.
É pior que a dor da tortura no calabouço
Da tua mãe-avó, a ditadura.
Ai, que sofrimento ouço
Desses teus olhos assassinos, suicidas.
Tenho medo da tua auto-compaixão,
Da tua testa que transpira, franze.
Quero gritar, sacudir-te, proteger-te,
Mas não me ouves. Estás em transe.
Bsb, 25/06/2010

Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 25/06/2010
Reeditado em 26/06/2010
Código do texto: T2341530
Classificação de conteúdo: seguro
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