Pesadelos hereges
Uma janela se bate ao vento,
E folhas desprendem-se dos galhos,
Esparramando na rua um som advento,
Pronunciado responsos de meus atos falhos...
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Como impropérios que agridem até a carne,
Da lâmina de uma língua que corta adjacente,
Na noite as lágrimas não te põem em alarme,
Pois a pior mentira, e a mentira que se sente...
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A noite chega, e suspira sobre os becos,
E cruzes são cobertas pela sombra da lua,
O profano grita, retumbando seus ecos,
Enquanto fantasmas invadem as ruas...
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Tétrico pesadelo, que me retorce na cama,
Batendo a minha porta, arranhado minha parede,
Queimando-me com a ponta de sua bagana,
Uma brasa febril, que aos meus versos treslede...
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Impuro sonho, ilógico, num feitio de drama,
Sem fuga destes labirintos desertos e noturnos,
Onde procuro a luz, mas só encontro à chama,
De um fogo que me queima taciturno...
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E este me arde as chagas da noite,
Em pesadelos vampirescos que me tomam o sono,
Pois o medo do escuro me toma de açoite,
Mostrando-me este meu frágil abandono...
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São pesadelos hereges, de maus pronunciados,
Que dançam sobre este meu mal dormir,
Corrompendo aos meus predicados,
Quando pelas noites fica a me seguir...
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São hereges que me tapam com sua capa preta,
Pisando-me com seu sapato vermelho encouraçado,
Martelando-me com sua enorme marreta,
No tic-tac do relógio que me mantém acordado...
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Acordado, mas dentro de um pesadelo proscrito,
Que não acaba nem com a luz do dia,
Do mal que me asseguro, de medo eu grito,
Em passagens, paisagens obscuras...Bruxarias...
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A noite se estacionou no firmamento,
O relógio parou no tempo, e não vai seguir,
A insônia me consome de um modo lento,
Dentro do pesadelo, em que não posso dormir...
(Marco Ramos)