Quem virá nos salvar
tentando navegar sobre a insanidade
procuro chão e encontro abismos
a joia mais rara restou guardada
no fundo do mar
o poder de resgatá-la
pertence à pura intenção
quem virá nos salvar
de nossas vidas vazias
quem recolherá
as lágrimas dos lúcidos solitários
perdidos e sem horizonte
entregues às mãos que semeiam sombras
eu conclamo as hierarquias
eu suplico a salvação dos cegos
queria me calar,
queria ignorar as mortes
que vejo pelas janelas fechadas
os medos geram distâncias
mudas e intransponíveis
como se lêssemos o mesmo livro mil vezes
a cada vez captando um sentido
sem nunca beber da verdade impressa
e trespassada das palavras
quem virá nos salvar
de nossas vidas vazias
o caminho das fadas está fechado
para as crianças humanas
sinto as mãos pesadas
e os pés inertes
da alma já nem preciso dizer: está triste
mas ainda quer o céu
(ou pelo menos a nuvem)
eu lamento os dias
das inúteis jornadas
e o tempo gasto em
pérolas de profetas perdidos
escadas de vento
para um destino irreal
- a verdadeira dor
é saber
quem virá nos salvar
de nossas vidas vazias
(a desesperança matou
a interrogação
e fechou a porta)