Já não posso mais amar.

Já não posso mais amar.

Não consigo.

Não há, palavra de homem,

Em lugar algum,

Alguém que se possa amar.

Creia-me. Pois já tentei, de fato,

Amar muitas pessoas,

De muitas formas,

De palavra e de gesto.

Mas não há forma de amar,

nem há muitas pessoas a quem se ame.

Invariavelmente invento amores.

Imagino amores onde não há.

Em amigas, em desafetos,

Na moça que passa na rua.

Penso amá-las, tento amá-las,

Tento sentir, tento sofrer, a todo custo...

Em vão.

Não há amor inventado,

Maior que seja, que vença a razão.

Tentei amar os amores que amei dantes,

Mas eles se tornaram pedra,

Gárgulas imóveis na catedral de meu coração.

E amar as pedras (quem o saberia?)

É frio, é duro e dói, dói demais...

Não posso mais amar.

É inviável a esta altura.

Melhor achar outra distração

Que valha o mesmo, ou quem sabe mais,

Que as antigas paixões que costumava viver.

Melhor achar novo sentimento

Nesta esfera infinita de escolhas,

Que possa suprir a falta

A falta doída

A falta triste

Triste e vazia

Que faz o amar.

William G. Sampaio [17/05/10]

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Primeiro poema em versos brancos. Livre de regras, de limites. Senti-me um cão livre do apartamento pela primeira vez: mais abobalhado que satisfeito.

William G Gardel
Enviado por William G Gardel em 23/05/2010
Código do texto: T2274374
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