Enterre-me com seu amor
Se meu coração fosse à lua,
Que prateia teu cabelo em negrume,
Ver-te-ia então – virgem e nua,
E sentiria da noite o teu doce perfume!
No entanto agora, nesta lápide erguida,
Vejo entre o calor do círio ardente,
Que fostes do existir a sombra! E da vida,
Minha musa de espírito inocente!
E morreste por fim, quando a juventude,
Brotou neste seio que eu fiz corar,
Acorda! Erga-te deste amadeirado alaúde,
E cura esse meu peso de tanto cismar!
Nunca mais! Vou ter-te nos meus braços,
Para sentir o frenesi do sagrado amor,
Ao menos, meu anjo seguirá meus passos,
Na tristeza que enluta a minha dor!?
Leve-me contigo, abaixo deste inferno,
Na qual repousas o teu espírito cativo,
Sem ti! O meu viver é o frígido inverno,
Que amortalha esse humano ainda vivo!
Não ria de mim!Que de teu amor tenho fome.
Qual o vampiro que molesta o sacristão,
Nas noites insones clamo a Deus- o teu nome,
No ondular das notas do meu coração!
E uma ultima vez, verei tua face fria volver,
No túmulo retorcendo-se na insana dor,
Leve-me contigo! Anseio muito pelo morrer!
E afora enterre-me com o teu divino amor!