Carta branca

Gastei até a última gota de resina

Para transformar noites de pensamentos

Nas palavras que se mostrassem mais vivas,

Numa constante e gostosa tentativa

De que te alcançassem por alguns momentos.

Assim, folhas pinceladas ganharam asas,

Encharcaram-se de loucuras e desejos,

Selaram-se com minhas saudades e vontades

E, imprimindo o êxtase em sua velocidade,

Foram atrás de seus sorrisos e gracejos.

Mas o perfume dessa carta se exalou

No longo caminho para as suas mãos.

Já não se sentia mais o cheiro da energia,

Tanta que busquei enquanto escrevia

E, você, indiferente, transformou em vão.

Marcas do seu sapato em um papel

Nada seriam se nele não estivesse

Os elos que me faziam dominado.

E deste persistente almaço pisado,

Só restos de amor aos poucos falecem.