Céu
Fugirei da poesia
para terras de sombrio pesar
sem palavras
terra de olhares
fugirei
da palavra construída qual muralha
para campos abertos
e lá sei, jazem corpos
de tantos que nunca sentiram
a navalha e o afago de um poema.
fugirei
dos sonetos, pensamentos, odes e lamentos
sem Vinícius, Drummond, Rilke, sem Augusto
sem Pessoa, sem Ana Cristina, sem Quintana
Leminski, Baudelaire
sem nada
e no vazio desconcertante das formas
quando a poesia estremecer as portas da mente
então sonhar
com um verso tão grande
que nem todo o vazio, todo o desamor, nem toda
a complacência e a futilidade dos homens
fará apagar
Muitas vezes
eu quis essa fuga
mas ela fica aqui dentro, quieta
silenciosa mas querendo sair
estranha, amarga, amada poesia!