Menina Mercado (Criança Caduca)
Conheço uma vovozinha
Não tem mais de 15 primaveras
Com essa idade essa garota
Debutante de uma era
Corpinho ágil, esguio
Cabelos soltos, castanhos
Longos, louros, negros
Boca sorri dentes à mostra
Nada indica pela sandália da moda
Pelos jeans da hora comprado no sebo
A vovozinha adolescente
Que em suas idéias mora. Gosta
De exibir-se. Finge maturidade
Imagina sacanagens no mundo
Que há de ter se pegar aquele
Filhinho de papai carente
Com suas coxas pubescentes
Com o bumbum balanceado
E os peitinhos forrados
Com o sutiã a modelar
Os pingentes sustentos dos seios
Basta ela abrir a boca: Pronto!
O olhar sedutor, carente
As querências manifestas
Tudo nela existe
Para a cultura do bate-pronto
Fútil e vaidosa como uma festa
Os pelos púbios debaixo do cobertor
A primeira masturbaçãozinha
Dedinhos espertos sob a calcinha
A segunda menstruaçãozinha
Tudo nela é estrutural
De há milênios. A fisiologia
Da cultura ancestral
Conduz os conteúdos todos
E as formas desde a Babilônia
Uma agricultura de há milênios
Mas como parece atual
Gatadolescente pralém do bem e do mal
Aparenta estar na superfície do mar
Quando jazz no abismo Pacífico
Do grande oceano blue das stars
É tudo e todas as coisas
Antena das ondas via satélite
Cria da Cia do Mundo das Perversões
Mercadoria semovente do sr. Mercado
Curiosa de alguém em quem possa confiar
Seu olhar emite um SOS
Em direção a toda população astral
Balança toda no andar
Balança até pra falar
Balança os corações solitários
De todos os signos do Aquário
Os cosméticos e o preservativo
Na bolsinha a girar factual
Uma esperança de que alguém virá salvá-la
Dessa maré cosmética, desse sal
Nesse iceberg de volúpia
No Titanic supermercado
Nesse tumulto seu príncipe encantado
Nunca aparece. Ele existe apenas em seu sonho
De boneca virtual Big-Brother no Carnaval
Náufraga em meio ao grande oceano
De preços & etiquetas
Flutua nua, estende os braços
Busca uma bóia, uma mão, um mar ido.