Do pólen a raiz

Perturbado estou

Minha alma arrasta pedras

Que encontrou pelo caminho.

Perturbado estou

Porque tamanho peso?

Não posso seguir leve

Extenso destino.

Quero acompanhar

As penas finas que flutuam

Da nuvem alta onde voam

Em recortes que encantam

Aves em flertes, raios, sóis e ventos...

No reflexo onde mais próximo vejo o céu

No mar onde não mora a solidão

Meu destino não é mais

Na baladeira guenza do menino

Mas é na estrada onde a terra

S o l t a endureceu

Meus olhos não acompanham

O vaporoso colibri...

Fui esperança de um pólen

Hoje sou velha e lenta raiz.

Perturbado estou.

Minha alma arrasta pedras,

Que encontrou pelo caminho.

Perturbado estou.

Porque tamanho peso?

Não posso seguir leve,

O extenso destino.

Quero acompanhar as penas finas que flutuam,

A nuvem alta onde voam

Em recortes que encantam:

As aves em flertes,

Os raios de sol,

os ventos, ah! os ventos.

Os tenho próximos somente,

Numa projeção, ou seria melhor dizer no reflexo?

Onde mais próximo vejo o céu,

Que é no espelho líquido do mar,

O mar onde se realiza a projeção,

Recuso-me a dizer que este mar é solidão.

Meu destino não é mais,

Na baladeira guenza do menino.

Mas na terra pisada,

Na estrada onde a vida se arrasta.

Meus olhos acompanham

O vaporoso colibri,

Fui a esperança Leve e frágil,

De um pólen.

Hoje sou firme, porém lento,

Como uma profunda raiz.