MANIFESTO AOS AMANTES
O amor é um leve grilhão em forma de pássaro
Pobres e miseráveis são os inocentes
Que escutam o seu cântico ancestre
Tolos, escravos e prepotentes
São todos Os espíritos de poetas andejos
Que não encontrando pasto, repouso, guarita
Nas cidadelas e em si mesmo
Vestem-se com penas de abutres, altivez de profeta
E põem-se a ruminarem
Infâmias, blasfêmias e falsidades sentimentais
Nas colinas de morros uivantes, nas praças de aposentados ou nas
vielas sombrias, residência dos alcoviteiros.
Anátemas!
Anátemas!
Bando de caluniadores da morte!
Carnossáurios pré-históricos da província humana!
Canibais insensatos da essência fictícia!
Senhor, caçador das florestas
Que não buscas nada, para além de víveres,
Que possam saciar sua prole
Senhor, caçador das florestas
Que desposou-se com o virgem silêncio
Feri, na altura do peito,
Este mocho impiedoso, fugaz e licencioso
Restitui-nos a lucidez
Frente às intempéries cinza das honras
Carentes marinheiros de primeira viagem
Tragados impiedosamente
Por cupidos de carnes fartas, brilhos foscos,
Todos residentes de lugares tão comuns
Despertem filhos de Eva
Ponham à baixo a arquitetura de Babel
Ressuscitem náufragos, das profundezas dos mares
E fitem a verdadeira face da horripilante sereia
Eu, carcaça póstuma do opróbrio do amor
Fantasma inconformado
Alerto-vos!