O Pianista sem dedos

Não quero lhe tocar a alma,

Muito menos descobrir os teus segredos

Não quero sua raiva, nem a sua calma,

Quero apenas que me emprestes os dedos...

~

Não quero seu feriado, sábado ou domingo,

Também não quero sua coragem, nem seus medos

Muito menos o seu dinheiro agora eu mendigo,

Quero apenas que me emprestes os dedos...

~

Não quero a sua cama, nem seus lençóis,

Não quero tuas pedras rolando entre os penedos

Não quero os seus recifes, nem seus atóis,

Quero apenas que me emprestes os dedos...

~

Não quero suas palavras, nem as suas poesias,

Não quero suas prosas em confins de aedos

Não quero seu vento soprando-me nas maresias,

Quero apenas que me emprestes os dedos...

~

Não quero que chores, lamentando dores,

Nem quero que figures sem um enredo

Também não quero seu jardim, nem suas flores,

Quero apenas que me emprestes os dedos...

~

Não quero a tua guerra, nem a tua paz,

Não quero os seus mísseis, nem seus torpedos

Não quero as qualidades que te fazem capaz,

Quero apenas que me emprestes os dedos...

~

Mas não quero que toques por mim,

As teclas deste maldito piano

Fazendo ressoar uma sonata sem fim,

Como um impropério pronunciado do profano...

~

Eu quero as tuas mãos, e o teu carinho,

Já não sei segurar-me com minha própria força

Dá-me a certeza de não estar sozinho,

E quando eu estiver tocando, espero que ouças...

~

Mas, por favor, não quero que sintas minha dor,

Nesta música que ecoará entre os arvoredos

Imagine-a, como um beijo do vento dado a flor,

Sentindo a minha vida, passar agora entre seus dedos...

Marco Ramos
Enviado por Marco Ramos em 03/06/2005
Código do texto: T21761