O Pianista sem dedos
Não quero lhe tocar a alma,
Muito menos descobrir os teus segredos
Não quero sua raiva, nem a sua calma,
Quero apenas que me emprestes os dedos...
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Não quero seu feriado, sábado ou domingo,
Também não quero sua coragem, nem seus medos
Muito menos o seu dinheiro agora eu mendigo,
Quero apenas que me emprestes os dedos...
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Não quero a sua cama, nem seus lençóis,
Não quero tuas pedras rolando entre os penedos
Não quero os seus recifes, nem seus atóis,
Quero apenas que me emprestes os dedos...
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Não quero suas palavras, nem as suas poesias,
Não quero suas prosas em confins de aedos
Não quero seu vento soprando-me nas maresias,
Quero apenas que me emprestes os dedos...
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Não quero que chores, lamentando dores,
Nem quero que figures sem um enredo
Também não quero seu jardim, nem suas flores,
Quero apenas que me emprestes os dedos...
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Não quero a tua guerra, nem a tua paz,
Não quero os seus mísseis, nem seus torpedos
Não quero as qualidades que te fazem capaz,
Quero apenas que me emprestes os dedos...
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Mas não quero que toques por mim,
As teclas deste maldito piano
Fazendo ressoar uma sonata sem fim,
Como um impropério pronunciado do profano...
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Eu quero as tuas mãos, e o teu carinho,
Já não sei segurar-me com minha própria força
Dá-me a certeza de não estar sozinho,
E quando eu estiver tocando, espero que ouças...
~
Mas, por favor, não quero que sintas minha dor,
Nesta música que ecoará entre os arvoredos
Imagine-a, como um beijo do vento dado a flor,
Sentindo a minha vida, passar agora entre seus dedos...