SEM LEMBRANÇAS BOAS NA MOCHILA
Vou partir sem olhar pra trás
Esquecer todo o bem que foi feito
Porque os ladrilhos quebrados
Sempre cortam mais fundo a carne crua
As lembranças boas não servem na estrada
São apenas itens que farão a mochila pesar mais
Enquanto a sede agrava a solidão que deveria morrer logo
Para não deixar vestígios na poeira
Talvez eu não tenha mesmo direito de viver na lua
Tenho perdido água durante a noite sem desejo de viver
Meu coração já não sente o bater da aurora
Bem sei que o dia não amanhece no meu bosque
Sou filhote de lobo faminto sem presa para caçar
Sem vírgula para separar as frases sem sentido
Um grito solto no deserto escuro
Tentando ser ouvido nos muros do paraíso
Meu paraíso naufragou numa noite sem chuva
Nem meus braços puderam alcançar uma ilha
Vou padecer sem lembranças boas na mochila
As lembranças saciavam minha sede e escorreram para o chão seco
Meu corpo deixará de ser meu abrigo
Vou vagar no deserto longe do sol
Serei o ato descartado no final da peça
Palco vazio que ficou sem vida