Politicagem
Preciosa teia tece a aranha
Atrai com graça e artimanha
Os fios envolventes da arte tacanha
A vítima se prende nessa teia
Igual o pescador e o canto da sereia
E a bela embalagem que esconde coisa feia
Ao cair em si não tem mais volta
O nó esmaga a alma e não a solta
Não adiantam grito ou revolta
A prisão é condição passageira
A morte é que será companheira
Em um gemido de liberdade derradeira
Com asas e impedido de voar
A mortalha negra se veste devagar
Suprimindo os sonhos e o ar
Sem os sonhos e sem o ar é sepultura certa
É terra a devorar a vontade deserta
De um sinal que esqueceu de ligar o alerta
Naufragam os acordes da última melodia
Transformam-se em pó os risos de alegria
Eternizam-se as algemas da ironia
A aranha do poder come o ser por completo
Restando somente o sumo abjeto
Da politicagem mais vil que o pior inseto