A chaga

Sinto dor, muita dor!

Uma chaga abre-se em meu coração.

Palpita, agita-me,

em bradi ou taquicardia.

Abrigo esta dor, dor surda!

E meu sangue que banha

esta chaga miocárdica,

que aos poucos vai me consumindo.

Toda dor tem seu mistério,

O segredo da minha dor é simples,

não é física, será química?

é fermento da paixão, já não sei.

Minha chaga irrompeu nas mãos, no adeus

O seu vetor espalhou toda uma legião

de incontáveis parasitas pelo ar, em qualquer

região concreta ou abstrata do viver...

Meu sangue latino,

rubro qual meu rubor facial

mudou de cor,

e em verde se transformou.

Senti a vida aflorar

nos pequeninos grãos de areia da praia

ora brilhantes, ora opacos na sombra

oscilando entre o branco e o negro

Já não consigo discernir

o canto dos pássaros.

Tudo é uma orquestra divina,

maravilhosa combinação de sons, cores, amores.

A fase aguda durou pouco

Como todos os bens e males,

A gente só avalia

Depois que por eles passa.

Se bem que para o mal do amor,

O melhor remédio é o bem que faz outro amor.

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em novembro de 1975.