O ÚLTIMO GESTO
O ÚLTIMO GESTO
Já cortado, o último gesto perde a pujança.
Meu corpo nu, prostrado e seco, jaz ao leito;
a mente agônica nao vê, não mais alcança
a vontade que, ao existir, me fez rejeito.
Ao tornar-se tudo o que tive um só conceito,
o primitivo ser acorda e ruge e cansa
ao rasgar-se inteiro no que era, então, perfeito
e que a Morte muda ao chegar e impor-se à dança.
A paz que está distante não deixou herança
e na escuridão meu rosto nas mãos estreito,
o esgar oculto e preso a acompanhar a ânsia...
Que toda esta dor que ora me transpassa o peito
passe ao largo da alma que ora empunha a lança
ao suceder da noite, ao despertar do feito.